quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Brasil e África




Segundo artigo publicado na Revista Brasileira de Política Internacional,
a maneira de encarar a África não corresponde mais à complexa realidade do continente e trata de um discurso da vitimização:exótica, sem personalidade, problemática e carente de ações humanistas, herdado do ciclo da descolonização, que não tem mais eco na atualidade.

O professor titular da Universidade de Brasília, José Flávio Sombra Saraiva, autor do texto, diz que a África é mais complexa, mais autônoma e ocupa um novo lugar na sociedade internacional.“É uma das últimas fronteiras do capitalismo global, com riquezas naturais e humanas incomensuráveis. O mundo precisa mais da África do que a África do mundo. Lá estão fontes e recursos naturais necessários à sobrevivência do planeta. E suas elites, embora ruins na média geral, estão divididas”, disse à Agência FAPESP.

Em seu livro O lugar da África – A dimensão atlântica da política externa brasileira (Editora UnB, 1996), Saraiva afirma que mesmo diante da crise econômica global e das dificuldades internas de constituição de sociedades e estados modernos, assiste-se no continente africano a “um ciclo positivo”. A África poderia, inclusive, se sair bem do momento de ansiedade por que passam as economias globais.


“A África profunda não quer esmolas ou modelinhos de culpa ocidental, quer apoio a idéias e projetos de infraestrutura social e econômica. Os chineses aprenderam isso rápido. Estão fazendo uma infiltração muito inteligente no continente africano. O Ocidente vai ficar para trás nessa corrida”, afirmou.

No Brasil existe ainda uma “baixa apreciação” em relação ao continente apesar de haver uma elevação do status da África no mundo – com inserção na sociedade internacional. “Há, por aqui, uma invenção da África que está mais ligada à história afro-brasileira do que às realidades estruturais que alicerçam a evolução de um continente imenso e muito diversificado em todos os aspectos. Inventamos aqui uma África para consumo interno, ora para elevar as Áfricas que temos dentro de nós, ora para denegri-la”, disse.

O aumento da representação diplomática no continente e a retomada de projetos estruturais no campo mineral, petrolífero, de infraestrutura social e profissional vieram mais do Executivo do que dos setores econômicos clássicos. Agora, há um fluxo comercial e empresarial que foi recriado pelo Executivo”, afirmou.

Mas o Brasil não pode negligenciar as relações de interesse com o continente africano. Do campo estratégico e econômico ao político, multilateral e de interesses a colher, a África é um dos destinos obrigatórios.

Fonte:
http://www.agencia.fapesp.br/materia/9926/especiais/novo-lugar-da-africa.htm

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